sábado, maio 28, 2011

Trabalhar contra ventos e marés sem olhar a quem.

Nos desportos, um treinador ou técnico é o indivíduo responsável pela coordenação e direcção das actividades de uma equipa ou de apenas um atleta. Ok, isto é o que virtualmente está escrito na Internet, mas será apenas isto? Claro que não. Há quem diga que também é um “condutor” de Homens. Ok, ok, também serve, mas eu acrescentaria que é um “malabarista” das técnicas e tácticas, um “ganancioso” de vitórias, um “aristocrata” nas derrotas, um “virtuoso” no balneário, um “metódico” nos números, um “apaixonado” na amizade, um exemplo na aplicação. Eis o retrato que faço do meu entrevistado, Paulo Sant’Ana, o Treinador que levou o GDR Canas de Senhorim ao maior feito até agora registado no seu historial. Ficou a “um passo” da subida ao Campeonato Nacional. Ou provavelmente terá até dado esse passo.



efeneto - “Contra ventos e marés” ou “Trabalhar sempre sem olhar a quem”. Qual destes títulos gostaria de ver no Jornal de Canas de Senhorim quando for publicada a entrevista que gentilmente me irá conceder?

Paulo Sant’Ana - Penso que a sua questão em relação ao título da entrevista, demonstra claramente que também tem consciência das dificuldades a que estive sujeito esta época, como treinador do GDR. Uma vez que teve oportunidade de me conhecer pessoalmente e ver a minha dedicação ao trabalho, deixo a escolha ao seu critério… E até pode ter outro título qualquer…. Agora, se eles significarem que as minhas tomadas de decisão foram sempre em função daquilo que considerei como o melhor para a equipa, então estes possíveis títulos são a linha comum e lógica para qualquer treinador. Nessa perspectiva, qualquer um serve.

efeneto - Em qualquer equipa existem diversos treinadores, o principal , liderando a sua equipa técnica e os de “bancada”. No Complexo os treinadores de “bancada” queixavam-se da sua frieza em não lhes dar “ouvidos”. Era teimosia da sua parte, desconhecimento da deles ou pura convicção no seu trabalho?

Paulo Sant’Ana - O GDR contratou-me para liderar os destinos da equipa sénior. Da equipa técnica faziam parte, inicialmente, três pessoas: - Eu, o Tiago Daniel e o Bérito. A partir de um determinado momento, o Bérito teve de abdicar do seu contributo por motivos profissionais. Depois da sua saída ficámos só dois a trabalhar e não incluímos mais ninguém por razões de ordem financeira que me ultrapassavam.

A questão da teimosia não se coloca, na minha perspectiva, porque os treinadores de bancada não passam disso mesmo. Não faziam parte do grupo que trabalhava diariamente no campo, nem tão pouco sentiam em primeira mão tudo o se relacionava com as dificuldades que sempre existem (e existiram) para tentar levar a bom porto uma época futebolística.

Depois, dar ou não dar ouvidos aos treinadores de bancada, nunca significa nada de bom para o treinador. Se damos, somos dominados. Se não damos, somos frios, calculistas e teimosos…

Não sou refém de nada nem de ninguém, apenas sou refém das minhas ideias que continuam a ser influenciadas pela contínua procura de novos conhecimentos nesta área. Penso que isto deixa claro que tenho uma grande convicção no meu trabalho.

Se a minha procura fosse pela simpatia da bancada, sei o precisava de fazer para obtê-la… Isso seria demasiado fácil. Para ser “simpático”, tinha de hipotecar a minha consciência e isso não farei nunca.

efeneto - Li com a devida atenção o seu dossier “Modelo de Vitoria”. “Esmiucei-o” e, a dado passo refere; […] Acredito que esses resultados vão permitir atingir o principal objectivo que é uma luta clara pelos três primeiros lugares, espreitando sempre a oportunidade de chegar mais acima na tabela […]. Há 3 anos consecutivos que o GDR Canas de Senhorim ficava em 5º lugar, poderemos então concluir que foi uma vitória! Portanto, sente-se satisfeito?

Paulo Sant’Ana -Começo pelo fim: -não estou satisfeito!

Pela análise pura e simples dos factos, já posso dar outra resposta. Esta época do GDR foi a melhor de sempre nesta divisão. Uma vez que o Fernando Neto faz parte deste clube, sabe que posso dizer algo que é absolutamente verdade e que pode custar a muitos “digerir”: o orçamento para construir a equipa era mais baixo do que nas épocas anteriores. Neste particular, sinto-me satisfeito porque conseguimos fazer mais e melhor com menos dinheiro! O clube nunca ficou tão perto da subida para uma divisão nacional. Melhor só mesmo ser campeão!

Quando aceitei ser treinador do Canas de Senhorim, foi-me dito que se pretendia fazer melhor do que nas três épocas anteriores. Para mim, fazer melhor, ficou claro que só podíamos estar a falar dos três primeiros lugares. É evidente que o raciocínio seguinte é perfeitamente lógico… até estatisticamente falando, se percebe que quem luta pelos três primeiros lugares, luta inevitavelmente pelo título ou pela subida…

Como teve oportunidade de constatar, no dossier que entreguei (no 1º dia do início da época) a todos os jogadores e direcção do GDR, tinha perfeitamente planeado e organizado um trabalho que previa exactamente o que aconteceu: …uma luta clara pelos três primeiros lugares, espreitando sempre a oportunidade de chegar mais acima na tabela… Mas eu queria mais um bocadinho. Não deu… logo, não estou satisfeito.

De qualquer forma, fico feliz por ter saber que “esmiuçou” o meu dossier. Percebeu certamente que trabalhei muito ainda antes da época começar. Depois de ficar claro que eu seria o treinador para 2010/2011, fiz aquilo que se espera de um treinador: elaborar um diagnóstico em relação ao clube; equipa, características dos jogadores e esforço previsível a relacionar com os dados obtidos das temporadas anteriores.

Penso que concorda comigo (porque tem conhecimento de causa) se eu disser que tentei não deixar nada ao acaso. Como sabe, todos sabiam exactamente o que podiam esperar de mim. As minhas ideias base sobre o que pretendia colocar em campo, estavam nesse dossier e iriam passar para a prática, como passaram de facto… planeamento táctico; comportamento táctico; modelo de jogo (caracterização geral e específica); estruturação… etc, etc, etc…

Sinto-me bem com a minha consciência e com o trabalho desenvolvido… tive oportunidade de aprender mais… e o que aprendi nesta época vai-me permitir continuar a evoluir como treinador…

efeneto - Em 2007 foi considerado o treinador do ano pela surpreendente época do Lamelas após a sua entrada. E nesta época que findou? Poderá ser também candidato ao mesmo título? No caso de resposta negativa qual o treinador que o merece?

Paulo Sant’Ana -O treinador do ano, para mim, só pode ser o treinador do Lamego. Parabéns para ele e seus jogadores pela conquista do campeonato.

efeneto – A sua entrada no GDR Canas de Senhorim coincidiu com uma nova Direcção e um novo Presidente. Como foi a sua relação com esta nova equipa directiva?

Paulo Sant’Ana -Penso que foi uma relação normal. Fiz o meu trabalho sem qualquer tipo de interferência. Cada um desempenhou o seu papel.

efeneto – Em Maio de 2008 numa entrevista a um órgão de informação virtual afirmou que; […] a arbitragem tem evoluído muito nas últimas épocas. Vai continuar a evoluir. Os erros fazem parte do jogo. Todos erramos e penso que a maioria trabalha para errar cada vez menos. […]. Agora passados praticamente 3 anos mantém a mesma opinião? Será que evoluiu? Cada vez se erra menos?

Paulo Sant’Ana -Todos estamos sujeitos ao erro. Uns erram mais do que outros? É verdade que sim. Mas como em todas as áreas da vida, há uns melhores do que outros. No essencial, mantenho a mesma opinião sobre a arbitragem: a arbitragem tem evoluído muito nas últimas épocas. Vai continuar a evoluir. Os erros fazem parte do jogo. Todos erramos e penso que a maioria trabalha para errar cada vez menos.

Se na semana seguinte a um jogo com erros graves de um árbitro, em prejuízo da minha equipa, todos nos focarmos nesses erros, isso significa que passo a ser um figurante numa peça de teatro de baixa categoria. Eu tenho de conseguir melhorar a organização da minha equipa mesmo depois de uma arbitragem desastrosa. Como eu só posso participar no processo de treino da minha equipa e não no dos árbitros, vou deixar para outros o que acho que compete a outros julgarem…

efeneto – Para sustentação desta minha entrevista pedi a alguns dos colaboradores deste Jornal para formularem tópicos ou perguntas directas a si. Um dos colaboradores coloca-lhe a seguinte questão: que acha da evolução do futebol no Distrito de Viseu e como encara o futuro tendo em conta as dificuldades em obter suporte financeiro para a sustentação das equipas?

Paulo Sant’Ana -Acho que o futebol tem evoluído e vai continuar a evoluir no nosso Distrito e em todos os distritos em geral. Independentemente das dificuldades em obter suporte financeiro. Penso que a única coisa que vai acontecer de relevante para os clubes que vão continuar activos, vai ser uma adaptação a novos valores financeiros mais baixos. O gosto pelo futebol vai continuar e os jogadores vão acabar por não se importarem em receber subsídios mais baixos para continuarem a fazer uma coisa que gostam muito. Talvez possamos assistir a partir daqui a uma nova ordem que terá paralelo com aquilo a que se assistia há muitos anos atrás em que cada clube terá de novo, cada vez mais, jogadores da terra.

efeneto – Foi ponto assente no inicio da época a sua aposta na juventude e principalmente no “aproveitamento” de jovens que fizeram a sua formação no GDR Canas de Senhorim. Foi uma aposta ganha? Como viu a saída de alguns desses jogadores para outras equipas provavelmente pelo descontentamento da “falta de oportunidades”?

Paulo Sant’Ana -Como sabe, o nosso plantel era o que tinha a média mais alta de idades (dados estatísticos disponíveis no site da AFV), de todas as equipas do nosso campeonato. Eu gosto, preferencialmente de trabalhar com jogadores jovens, mas não podia, neste caso, desaproveitar a qualidade e experiência de alguns dos elementos que já faziam parte deste plantel e que eu concordei que ficassem para esta época. Ainda assim, ficamos com alguns jovens com potencial evolutivo. Os que mais se destacaram foram sem dúvida o Tiago (19 anos) e o Dominique (23 anos). Destes dois, só o Tiago passou pela formação do GDR e o Tiago é claramente uma aposta ganha.

O Tiago teve o que faltou a outros jovens que decidiram sair do clube: grande capacidade de trabalho; força de vontade; coragem para esperar pelo momento certo e acima de tudo, muita humildade. O Tiago depois do primeiro jogo a titular, nunca mais saiu da equipa e foi decisivo para as melhores prestações que tivemos.

Um dos jogadores que saiu (decisão unicamente da sua responsabilidade), se não o tivesse feito, provavelmente teria acabado a época com muitos jogos a titular. Lembro que no primeiro jogo da segunda volta, o Assunção (jogador de uma posição semelhante) sofreu uma lesão que praticamente o afastou até ao último jogo da época em Molelos (jogou 45 minutos) …

O jogador em causa confrontou-me no meu balneário (no final de Novembro) com a falta de oportunidades para jogar mais vezes a titular… Eu limitei-me a dizer-lhe para ter calma e ter coragem para esperar pelo momento certo. Ele respondeu-me que achava que devia ser titular e que se assim não fosse, se não contava com ele nessa perspectiva, que preferia sair. Eu respondi-lhe, dizendo mais uma vez, para ter calma porque a sua oportunidade iria surgir. Disse-lhe também nesse momento que não queria que saísse mas que também não o iria impedir. A humildade é uma qualidade com grande importância para um jovem jogador que pretende evoluir…

efeneto – Em Maio de 2008 afirmou que a única “pessoa” com quem partilhava o segredo do seu futuro era a sua “almofada”. Com a forte hipótese do GDR Canas de Senhorim ir disputar a 3ª Divisão Nacional (consequência de diversas desistências e renuncias) será que só a sua “almofada” tem o direito de saber o que pensa fazer na próxima época? Como estamos de convites? O próprio GDR Canas de Senhorim já avançou com algum?

Paulo Sant’Ana -Estive nessa altura (2008) muito perto de ser treinador de um clube da 3ª divisão nacional. Perto de uma decisão final, um pormenor falhou. Pelo feitio que tenho em relação a convicções muito próprias, não foi possível chegarmos a acordo.

Na época passada fui confrontado com um convite para ser adjunto de um treinador na 2ª divisão nacional B. Só não aceitei porque acreditei muito que podia fazer um bom trabalho com um outro grande objectivo pessoal, no GDR.

O “segredo da almofada” de que falei em 2008, não era nada de extraordinário. Pode ser revelado. Em 2006 tinha dito a mim mesmo que se no prazo de 5 anos não estivesse a treinar uma equipa da 3ª divisão, deixaria o futebol como treinador de seniores.

Hoje penso um pouco diferente. Principalmente porque rejeitei os convites que atrás descrevi. Podia lá ter chegado antes do prazo que estabeleci para esse objectivo.

No que diz respeito à próxima época, posso dizer que não tenho até ao momento, nenhum convite.

Não queria revelar algo que não me compete a mim revelar mas tanto quanto pude entender, havia alguma indefinição em relação à continuidade do Sr. Simão (presidente) à frente dos destinos do GDR.

O responsável pelo departamento de futebol, Sr. Adelino Mouraz que também já foi presidente do clube durante muitos anos, abordou-me na última semana e deu-me a entender que gostaria de continuar no clube na disputa de uma eventual 3ª divisão nacional. Disse-me que gostava de o fazer comigo como treinador.

Fique muito satisfeito e orgulhoso com esta abordagem. No entanto, vou tornar pública a resposta que dei ao Sr. Adelino (principal responsável pela minha vinda para o Canas): Apesar de neste momento não ter qualquer convite, o meu futuro como treinador, não passa pelo Canas de Senhorim, nem mesmo na 3ª divisão nacional. É ponto assente e final.

efeneto – Todos sabemos que o GDR tem um plantel com jogadores muito experientes (Abadito, João Miguel, Santos, Simão, Fino, Luís Lopes, Roberto, Diego), contudo houve jogos onde demonstraram o contrário e perderam pontos que seguramente hoje nos levariam a terminar a época como campeões. Pudemos constatar que contra o Lamelas, onde começamos a ganhar acabámos por perder, contra o Silgueiros fora que também estivemos a ganhar por 2 a 1 e empatámos, contra o Viseu e Benfica em casa que empatamos, contra o Parada que depois de estarmos ganhar, empatámos, enfim uma série de exemplos onde demonstrámos clara falta de eficácia e quiçá a experiência que supostamente deveríamos ter. Esta foi mais uma das questões que me foi solicitado que lhe colocasse. O que nos tem a dizer?

Paulo Sant’Ana -São factos… e é futebol! Puro e simples!

Detesto falar da sorte ou da falta dela, mas o que dizer dos factos que vou acrescentar em relação a esses mesmos jogos (?):

- Lamelas (fora): no primeiro golo, o árbitro foi talvez demasiado rigoroso na marcação do penalti… e no segundo golo, o David num erro anormal e infeliz, teve pouca sorte.

- Silgueiros (fora): segundo golo de uma bola chutada a 25 metros da baliza, bate nas costas do Simão e trai o Filipe.

- Viseu Benfica (casa): empatamos a zero e tivemos (entre outras oportunidades) uma bola ao poste e um golo mal anulado na minha perspectiva.

- Parada (casa): para quem viu, foi o jogo em que mais golos podíamos ter marcado…

Isto é o futebol. Podemos falar de falta de eficácia nestes jogos, sim.

O futebol é jogado por pessoas. Nem sempre conseguimos estar no nosso melhor. Mas que dizer no global? Fomos o 2º melhor ataque… Rejeito por completo a associação à falta de experiência. Estes foram acontecimentos excepcionais que infelizmente se reflectiram em perca de pontos importantes. Mas, mais uma vez digo, isto é o futebol. Por exemplo, e em contra ponto, no último jogo em casa contra o Silgueiros, jogamos toda a 2ª parte com 10 e enviámos 3 bolas aos ferros; marcámos mais um golo… e ganhamos 3-1...

É futebol!…E já agora, uma curiosidade: pela primeira vez nesta divisão, o Canas não perdeu nenhum jogo em casa!…

efeneto – Outro tipo de análise pode ser feita ao valor e ao equilíbrio do plantel. Acha que tinha um plantel equilibrado? Se não, qual o ou os sectores que em sua opinião estavam em défice?

Paulo Sant’Ana -O plantel foi construído por mim e pelo Sr. Adelino. As limitações financeiras (orçamento mais baixo dos últimos anos) não permitiram um grande leque de escolhas. Ainda assim, com um critério muito apertado, conseguimos algumas contratações muito boas e que foram decisivas para a melhor época de sempre do GDR.

Abadito; Roberto; Diego; Assunção; Dominique; Lilo; Tiago, foram os que acabaram a época connosco e que estiveram desde o primeiro dia.

Estes jogadores com os que transitaram da época anterior, fizeram um grande campeonato. Isto é um facto indesmentível.

Não nos podemos esquecer entretanto que acabámos a época com apenas 15 jogadores disponíveis (Filipe Figueiredo lesionou-se com gravidade contra o Viseu Benfica). Desses 15, um, só podia treinar à sexta-feira e outro em semanas intercaladas.

Acabámos em grandes dificuldades. Talvez o Lamego não tenha passado por isto e provavelmente muito poucos tenham passado. Mérito também por esta via, no que diz respeito à classificação que conseguimos.

Concretamente, plantel equilibrado talvez não fosse totalmente para quem analisa de uma forma convencional. Para ficar mais próximo de um equilíbrio aceitável convencionalmente, precisávamos de ter mais um ponta de lança de área. De qualquer forma, eu analiso de maneira diferente o equilíbrio de um plantel. No nosso caso, considero que tinha um grupo com grande polivalência posicional e funcional e nessa perspectiva, com todas as condicionantes existentes, considero que tinha um grande conjunto de jogadores.

efeneto – Se eventualmente não continuar no GDR Canas de Senhorim já “confidenciou á sua almofada” qual o jogador ou jogadores que gostaria de levar consigo para a equipa da qual será treinador?

Paulo Sant’Ana -Como já disse, o meu futuro não passa pelo GDR. Também ainda não tenho convites de nenhum clube.

Num cenário hipotético, obviamente que não tinha qualquer problema em voltar a trabalhar com alguns dos que foram meus jogadores esta época. Naturalmente que não seria correcto da minha parte divulgar esses nomes neste momento. Não resisto no entanto em fazer uma confissão e espero que os outros me perdoem. O Tiago Henriques era o primeiro que eu convidava para trabalhar comigo numa 3ª divisão nacional… grande humildade e capacidade de trabalho com um grande potencial para desenvolver… 19 anos!

efeneto – Lá terei que fazer a pergunta que todos estão á espera que faça; O S C Lamego foi um justo campeão? Sabendo de antemão que foi a nível pontual a mais regular poderá dizer-se que também foi a que praticou melhor futebol?

Paulo Sant’Ana -O Lamego é um justo campeão. Foram os melhores. Marcaram mais golos e sofreram menos. Tinham uma cidade mobilizada e em sintonia com a equipa…

Quanto ao melhor futebol, não sei. Foram eficazes a maior parte do tempo e os 2 jogos que disputámos no campeonato foram dois grandes espectáculos de futebol.

efeneto – Sei que gosta de “lidar” com estatísticas, com números. Deixo-lhe esta pergunta para explanar o seu pensamento, explanar os seus números com base nestes; 30 jogos/58 pontos, uma média de, praticamente 2 pontos por jogo. 57 golos marcados/30 jogos, uma média de 2 golos por jogo. 31 golos sofridos em 30 jogos, média de 1 golo sofrido por jogo. 16 vitorias e apenas 4 derrotas mas 10 empates. Sinta-se á vontade para “esmiuçar” estes números! Um “aparte”, os empates foram decisivos para não sermos primeiro, ou, para termos sido segundos?

Paulo Sant’Ana -Começo pelo “aparte” : empates significam pontos perdidos e mais empates que os Lamego significaram o 2º lugar… a matemática é terrivelmente fria. É assim no futebol (também) quando analisamos a tabela classificativa.

Os números, ainda assim, dizem que esta foi a melhor época de sempre do GDR Canas de Senhorim, na principal divisão do Distrito.

Não perdemos em casa. Fizemos 32 pontos na segunda volta (Lamego e Paivense fizeram 30).

Tivemos o melhor e provavelmente o mais barato ponta de lança do campeonato. O Dominique marcou 25 golos… Este jogador foi guarda-redes até há quatro anos atrás e há duas épocas jogava num clube da 1ª divisão distrital…

Dos 57 golos, marcámos 40 nas segundas partes… Significa que acabámos quase todos os jogos em superioridade física, táctica, técnica e mental sobre os nossos adversários…

Se me perguntar se trocava algumas destas coisas pelo título, diria: claro que sim… mas, depois de uma quantidade inacreditável de peripécias, depois de ter sido sujeito a um sem número de insultos gratuitos e bastante personalizados tenho que concluir que foi, ainda assim, uma grande época!

Um outro dado curioso, tem a ver com a disciplina. Pelo que pude saber, depois uma pequena "investigação", esta foi a época, nesta divisão, com menos castigos e multas para jogadores, treinadores e diretores.

Quem vier a seguir vai ter que ser campeão para fazer melhor… e muito sinceramente, é isso que espero que aconteça e em condições mais fáceis.

efeneto - Os leitores já deram conta que estas perguntas não seguiu uma linha tradicional de entrevista. As perguntas foram colocadas ao “sabor da corrente”, não segui uma linhagem predefinida, foi de propósito porque constatei que o entrevistado gosta de ser diferente seguindo os seus instintos e convicções. Para terminar Mister Sant’Ana, o que achou de todas as pessoas que o rodearam nestes últimos meses desde directores a adeptos?

Paulo Sant’Ana -Os adeptos do Canas são exigentes como são a maioria dos adeptos em geral. É óbvio que talvez a maioria não tenha simpatizado comigo. Talvez as motivações para me insultarem constantemente estivessem relacionadas com as minhas opções e com o facto de alguns serem familiares de jogadores que não eram opção ou que foram embora… Mas eu estou tranquilo com a minha consciência e por muito que custe, tenho que repetir: foi a melhor época do GDR nesta divisão, até ao momento.

É quase normal em todo o lado um treinador ser apupado ou insultado, já me aconteceu pontualmente noutros clubes. Não me incomodou nessas alturas. Não podemos agradar a todos, tenho consciência disso. No entanto, foi a primeira vez que senti insultos demasiado personalizados e isso, confesso, desgastou-me mais do que o normal.

Atendendo ao campeonato que fizemos, julgo que se o Canas tivesse tido uma massa adepta mais cúmplice e ligada à equipa, certamente também teríamos tido uma prestação mais sólida nos momentos mais difíceis.

Fui do primeiro ao último minuto um treinador dedicado a um objectivo que antes de ser do clube, era meu!…

Trabalhei muito para tentar fazer o melhor possível. Tenho as minhas limitações que tento ultrapassar a cada momento. Fiz esse trabalho sem interferência dos Directores nas minhas opções. Esse ponto para mim era essencial.

Coloquei uma vez o lugar à disposição e não aceitaram a minha demissão. Todos temos defeitos e virtudes e penso que de uma maneira ou de outra todos queríamos o melhor para o GDR.

Não quero perder esta oportunidade para deixar um abraço para o Sr. António, que foi o nosso roupeiro e tem uma “pachorra” incrível para “aturar” jogadores e treinadores…

efeneto – Como é da “praxe” tenho que lhe pedir umas palavras dedicadas aos nossos leitores.

Paulo Sant’Ana - Desejo a todos boa saúde, felicidades e boas leituras. E àqueles que são simultaneamente adeptos do GDR, espero que apoiem no futuro o mais que puderem o clube que é neste momento o mais representativo do concelho.

Saudações desportivas e até sempre.

Paulo Sant’Ana
©efeneto – Entrevista publicada no Jornal de Canas de Senhorim. Por uma questão de respeito para com os leitores inteligentes e bem-educados, para com o entrevistado e entrevistador esta entrevista apenas poderá ser comentada no G.D.R.Canas de Senhorim
Futebol Distrito de Viseu © 2008. Design by :Futebol Viseu Sponsored by: Futebol Viseu